terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Sonho que se sonha só...

... é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade, já dizia o poeta.

Agora imagine um garoto de 16 anos, que vivia uma vida "normal" (casa, escola, "estudar" com os amigos), estudante de uma Escola particular e sem nenhuma preocupação (a não ser a nota de matemática) mudar repentinamente porque compreendeu que sozinho nessa vida a gente não vai pra lugar nenhum.

Tá certo que desde os 11, 12 anos de idade eu já me interessava por esse negócio de participação política, mas não a política como era - e é -praticada. E muitas coisas contribuíram com isso, entre elas um livro de história que contava uma versão diferente da qual eu estava acostumado a ver. Esse livro, de Mário Schmidt, afirmava que a independência do Brasil não aconteceu com um mero acordo entre a colônia e a metrópole, mas que foi preciso derramar muito sangue brasileiro pela nossa soberania. E que a abolição da escravatura não foi um favor da princesa Isabel e sua decadente monarquia, mas fruto da luta do povo negro, que cercava o palácio da princesa quando da assinatura da famosa lei. Também falava que o que aconteceu no Brasil em 1964 não foi Revolução, mas um golpe de estado orquestado pelas elites e que só foi derrotado anos depois graças à brava luta de nosso povo...

Esse livro também me fez admirar uma tal de UNE. Certa vez, fiquei acordado até tarde pra assistir uma entrevista de Felipe Maia, então presidente dessa entidade, no jornal da Globo, e olhe que ficar acordado até essa hora naquela época me rendia uma bronca da minha mãe. Mesmo assim, abaixei o volume da televisão pra que ela não acordasse e fiz questão de conhecer um pouco mais dessa famosa organização estudantil. Desde já, me sentia representado por ela.

Até que um belo dia um rapaz chamado Lenialgumacoisa (não entendi o nome de primeira) foi na minha Escola e quando chegou na minha sala a primeira coisa que perguntou foi se alguém sabia o que significava a sigla UBES. Querendo dar uma de inteligente, respondi:
- Universidade Brasileira de...
Errei feio! Mas achei interessante quando fiquei sabendo que UBES significava União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Prontamente perguntei se tinha alguma coisa a ver com a UNE, e o rapaz respondeu que eram entidades irmãs, a primeira representando os secundaristas e a segunda, os universitários.

Pois o melhor é que a UBES iria realizar o seu 35º Congresso Nacional no final do ano e estava passando nas Escolas de todo o Brasil para eleger um representante para participar desse Congresso. Fiquei interessado e acabei sendo eleito delegado. Mas antes, a gente teve várias reuniões com estudantes de outras escolas de minha cidade pra discutir um pouco de nossas opiniões. Participando dessas atividades, aprendi o que era movimento estudantil, além de fazer muitas novas amizades.

E aprendendo o que era movimento estudantil aprendi que tem uma entidade que joga um papel muito importante na condução das movimentações dos estudantes, a UJS - União da Juventude Socialista. Foi quando, além de ter sido ganho para a luta dos estudantes, fui convencido que todas as injustiças que eram cometidas nesse mundão só acabariam quando acabasse o capitalismo. Assim, virei um jovem socialista!

Mas o melhor ainda estava por vir: na medida que eu participava de todas essas lutas, percebi que tinha um Partido Político que apoiava todas as nossas causas. Mas espera aí, um Partido que não que só o meu voto?

Pois é verdade! Era o Partido Comunista do Brasil, o PCdoB. O primeiro - e único - partido que conheci que não tinha como seu principal objetivo enriquecer às custas do povo. Aliás, é um Partido formado pelo povo, por gente simples que dá um duro danado no dia a dia e sente na pela a exploração capitalista, e por isso decidiram lutar por um novo Brasil.

É, nesses anos de militância a minha vida mudou radicalmente. E foram muitas dificuldades que foram enfrentadas durante esse percurso, mas numa boa, eu não trocaria essa vida por nada, pois foi nela que conheci algumas das pessoas que mais amo, nela, aprendi a sonhar um sonho que, por mais que pareça utopia é plenamente realizável.

Mas nada de sonhar sozinho...

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